05/08/2011

Unir Pontos







                                          




Unir Pontos

O trabalho que aqui apresento é também consequência  de dois factores de não menor importância , e que contribuíram para o mesmo ponto de chegada de duas abordagens possíveis dentro do mesmo projeto.
O primeiro prende-se com a minha formação em Design de Moda  e por um conjunto de competências desenvolvidas nessa área. Nomeadamente o desenvolvimento de uma sensibilidade  própria  ligada diretamente ás múltiplas possibilidades de manipulação da matéria têxtil. O segundo não totalmente desligado do primeiro, prende-se com a existência de um arquivo, já de um certo  tamanho onde,  pensei, ser o lugar ideal   para o desenvolvimento deste projeto.
O processo no meu trabalho tem uma importância fundamental, e seja qual for o teor deste, é o próprio processo que vai ditando caminhos. Existindo uma relação permanente entre o pensar e o fazer.
Sendo para mim  sempre importante, pensar para fazer, e fazer para pensar.
Isto  explica a grande quantidade de experiências á volta da matéria têxtil que levei a cabo. O que me interessou desde o inicio foi trabalhar com uma ideia de desconstrução dos clichés dos trabalhos têxteis como sejam o intrinsecamente feminino destes trabalhos, ou a ideia de repetição do mesmo movimento para um sentimento de resignação do sofrimento de uma condição, etc..
Iniciei então uma abordagem ao têxtil partindo do tecido propriamente dito, já tecido portanto, e encará-lo como uma matéria de trabalho, onde iniciei uma série de experiencias com acetato de polivinil. Obtendo assim uma superfície resistente maleável e de uma peculiar plasticidade. Iniciei uma  uma série de dobras e cortes. Estes cortes tem algo de ilusionismo ou de mágico, só no final quando
se desdobra o tecido, é que verificamos o que aconteceu, que nova forma temos nas mãos.
O passo lógico foi pensar na  deformação de estruturas bidimensionais, quando se unem dois ou mais pontos dessa estrutura, obtemos uma deformação na peça, ou no desenho, que pode transformar-se numa ocorrência tridimensional. É assim que também funciona a modelagem das peças de vestuário : as diversas partes são planificadas e depois de unidas obtemos a peça de roupa que vestimos. Aqui o processo é semelhante temos o plano onde surgem os cortes, e a união de alguns pontos desse plano constituem o volume final. A tridimensionalidade por si só não constituía nenhum requisito que  á partida valorizasse, mas aqui revelou-se particularmente  pertinente. Uma vez que é através deste processo que esta peça se pode metamorfosear, com o mínimo de operações possíveis, bastando para isso ir mudando os pontas de contacto.
O mesmo raciocínio foi aplicado na peça de bronze. Aqui não modelei um volume em barro que  se  passa a gesso etc., mas obtive a peça através de tiras bidimensionais que juntas constroem esta peça, o seu interior e o seu exterior.  O entrelaçar das tiras inicialmente construídas em cera, remete par os picas e os deixas que são em linguagem de tecelagem os pontos onde a teia se une com a trama.  Se na peça de seda estava implícita uma ideia de recusa do cliché feminino, no trabalho de bronze, está certamente presente  a mesma estratégia  mas no sentido masculino.
Assim, estas duas peças finais tão distintas  nos materiais que as constroem, são idênticas na sua  estrutura,  são idênticas no seu conceito. 

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